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Do Deserto à Produção: O Que o Brasil Pode Aprender com a China no processo Contra a Desertificação

25 de abril de 2025
Um gramado verde com dunas ao fundo no deserto de Goby na china

Enquanto o mundo se preocupa com o avanço da desertificação e suas consequências para a produção de alimentos, a China vem mostrando que é possível reverter esse processo com planejamento, tecnologia e ação política coordenada. Nos últimos 40 anos, o país asiático transformou áreas inteiras do deserto de Gobi em zonas verdes e produtivas, num esforço colossal que pode inspirar soluções para os desafios enfrentados pelo Brasil, especialmente no semiárido nordestino, onde a desertificação também avança de forma alarmante.

O Grande Muro Verde e as Iniciativas Chinesas

O projeto chinês mais emblemático é o Grande Muro Verde, um cinturão de árvores que atravessa o norte do país e tem o objetivo de conter o avanço do Gobi, um dos desertos que mais crescem no mundo. Desde 1978, o governo chinês já plantou mais de 66 bilhões de árvores, além de investir pesado em tecnologias como irrigação por gotejamento, sensores de umidade, monitoramento por satélite e agricultura de precisão. O exemplo mais impressionante é a região de Kubuqi, que antes era completamente árida e hoje abriga plantações de milho, hortaliças, frutas e até criação de gado em sistemas sustentáveis. Com isso, a China não só conseguiu reduzir o avanço do deserto como aumentou a produção de grãos em regiões antes improdutivas, fortalecendo sua segurança alimentar e diminuindo a dependência de importações em determinados períodos.

Impactos Globais da Transformação Chinesa

A transformação chinesa não é só ambiental. Ela afeta diretamente o mercado global de grãos. Ao tornar mais produtivas as áreas antes estéreis, a China tem conseguido reduzir suas importações em alguns ciclos agrícolas, impactando os preços internacionais e a balança comercial de países exportadores, como o Brasil. Mas ao mesmo tempo em que isso pode representar um desafio, também aponta caminhos de inovação para o agronegócio brasileiro, especialmente nas áreas mais vulneráveis do país.

A Situação do Brasil: Avanço da Desertificação no Semiárido

No Brasil, diferente da China o problema da desertificação é especialmente grave em regiões povoadas no semiárido nordestino, que cobre mais de 1,1 milhão de km² e abriga cerca de 22 milhões de pessoas. A degradação do solo nessa região é impulsionada por fatores como desmatamento da caatinga, uso intensivo e incorreto do solo, queimadas, pastagem extensiva e más práticas de irrigação. O resultado é a perda da fertilidade, o assoreamento dos rios, a redução das chuvas e o abandono das terras por parte dos pequenos produtores. Estima-se que mais de 13% do território brasileiro já esteja sob risco de desertificação, afetando diretamente a produção de alimentos básicos como milho, feijão e sorgo.

Iniciativas Brasileiras e Seus Limites

O Brasil até tem iniciativas relevantes em andamento, como os projetos de reflorestamento com espécies nativas, a instalação de cisternas para captação de água da chuva e programas de manejo sustentável da caatinga. Há ações do Ministério do Meio Ambiente, de universidades e de ONGs. Mas essas iniciativas são, em sua maioria, localizadas, com poucos recursos, baixa articulação entre municípios e pouca continuidade entre governos. A comparação com a China revela um abismo: enquanto os chineses tratam a desertificação como um problema nacional e estratégico, aqui ela ainda é vista como um tema regional e pontual.

Consequências Econômicas e Sociais para o Brasil

E isso tem um custo. O avanço da desertificação no Brasil compromete a produção de grãos, eleva o custo dos insumos e reduz a produtividade. Pequenos produtores do semiárido perdem competitividade e são obrigados a migrar para os centros urbanos, pressionando ainda mais as cidades do interior. Além disso, o Brasil corre o risco de perder espaço no mercado internacional de grãos se não investir na recuperação de suas áreas degradadas.

Lições da China: Caminhos para o Brasil

A experiência chinesa mostra que é possível transformar desertos em pólos agrícolas produtivos com investimento em ciência, política pública de longo prazo e envolvimento das comunidades locais. Se o Brasil quiser tornar o semiárido nordestino uma nova fronteira agrícola sustentável, precisa adotar tecnologias adequadas ao clima, ampliar o uso de irrigação eficiente, fomentar sistemas agroflorestais, oferecer crédito rural verde e capacitar os agricultores com assistência técnica continuada.

Oportunidade de Desenvolvimento Sustentável

Mais do que combater a desertificação, trata-se de garantir a soberania alimentar, preservar a biodiversidade da caatinga e fortalecer a economia do interior. A luta contra a degradação do solo é também uma oportunidade de crescimento econômico e geração de empregos. O exemplo da China está aí. Cabe ao Brasil escolher se continuará perdendo solo e gente para a seca, ou se investirá em um futuro fértil, mesmo onde antes parecia impossível plantar.

Ayrton

Ayrton Nascimento

Graduando de Agronomia (IFRJ)
Cristão, fã de K-pop, gastronomia, games e filmes. Gosta de curtir tudo isso no tempo livre e trocar ideia com todo mundo.

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