Inovar É Correr Risco
Em abril, Porto Alegre foi palco do South Summit Brasil 2025. Um evento vibrante, com milhares de pessoas do ecossistema de inovação no Brasil e no mundo. Paineis, pitches, reuniões, conexões e um tsunami de posts nas redes sociais. Mas, depois que os holofotes se apagaram, ficou a pergunta que realmente importa: tudo isso vai virar inovação de verdade?
Inovação não é enfeite de slide
Nos últimos anos, “inovação” virou palavra mágica. Está nos discursos do setor público, nas metas de empresas, nos projetos acadêmicos, nas vitrines das startups. Virou cargo, selo, KPI. Mas inovação real não cabe em planilhas de planejamento estratégico nem em campanhas de marketing. Ela incomoda. Dá trabalho. E sim, exige risco.
Inovar não é só lançar um app novo, aplicar IA em um processo ou automatizar tarefas. A inovação que transforma acontece quando encaramos problemas reais com soluções que desafiam o senso comum. Para isso, é preciso coragem para errar. E disposição para mexer no que está confortável — ou estabelecido demais.
Disrupção é conceito antigo
Hoje, todo pitch usa o termo “disruptivo”. Mas poucos sabem que a ideia nasceu quase cem anos atrás com Joseph Schumpeter, economista austro-americano. Para ele, o motor do crescimento não era o equilíbrio — mas sim o caos criativo. A famosa destruição criadora: ciclos em que o novo demole o velho para abrir espaço para formas mais eficientes de organização.
É simples, mas brutal. Criar algo novo exige enterrar o antigo. Isso tem efeitos profundos — econômicos, sociais, políticos. Por isso, inovação de verdade nunca é confortável. Ela sacode estruturas, fecha empresas (lembra da Kodak, Blockbuster, Nokia?) e cria vencedores… e derrotados. Não é à toa que tanta gente evita inovar de fato — ou finge que inova, o que talvez seja ainda pior.
Se dói, por que inovar?
Se Schumpeter nos lembra do impacto da inovação, Keynes explica quem ousa inovar. Foi ele quem cunhou a expressão animal spirits — impulsos humanos como confiança, otimismo, ousadia. É isso que move quem empreende, pesquisa ou investe, mesmo sem garantia de sucesso. É esse instinto que empurra pessoas para frente quando tudo parece incerto.
No Brasil, precisamos alimentar esses espíritos animais. Criar ambientes que não esmaguem quem tenta. Lugares onde seja possível experimentar, errar e ajustar sem medo de ser linchado, rotulado ou auditado ao primeiro tropeço. Isso não significa “socializar prejuízos”. Significa valorizar o aprendizado.
Errar faz parte. Fingir que não é que atrasa tudo
Toda inovação passa por erros. Prototipar, testar, falhar, ajustar. Mas por aqui, o erro é tratado como sentença. Quem falha vira piada. Ou, pior, perde reputação. Startups são descartadas, profissionais rotulados, empresas punidas por ousar.
Resultado? Cultura do medo. Empresas querem “inovar” comprando o que já está pronto. Sem risco. E, se possível, “no precinho”. Às vezes até de graça — já me pediram.
Se quisermos inovação real, precisamos aceitar erros – dentro de uma razoabilidade – como parte do processo. Devemos valorizar quem erra rápido e aprende ainda mais rápido. Valorizar quem ajusta o rumo em vez de quem acerta de primeira – às vezes, por sorte. Inovação exige empresários com apetite ao risco, em sinergia com pesquisadores, governos e startups.
Liderar para inovar é outra coisa
Em contextos complexos, liderar não é ter todas as respostas. É fazer as perguntas certas. É abrir espaço para ideias emergirem. É remover barreiras, oferecer suporte, dar liberdade para tentar. E saber que não vai ser confortável.
A pergunta verdadeira é: estamos prontos para correr o risco necessário?
Porque inovar de verdade vai muito além de discursos empolgados, eventos badalados ou powerpoints bem diagramados. Exige investimento, resiliência (palavra que ganhou força depois das enchentes no RS), capacidade de aprender com o erro, e, acima de tudo, coragem para seguir quando tudo parece jogar contra.
Usando a ideia de Nassim Taleb, a inovação precisa ser antifrágil: cada tropeço deve fortalecer — e não quebrar — pessoas, projetos e instituições.
Se quisermos um país inovador, precisaremos de empreendedores que ousam, líderes que confiam, governos que viabilizam e cidadãos que aceitam a mudança como parte da evolução.
O South Summit Brasil passou. Agora a pergunta que importa é: estamos prontos para inovar correr riscos?

Eduardo F. da Silveira
Economista liberal, doutorando no PPGE/UFRGS Economia Aplicada.
Fundador da startup Bulzai Inteligência Artificial.