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A Perseguição Comunitária Contra Cristãos no Paquistão

15 de outubro de 2025

Em países islâmicos, cristãos são tratados como cidadãos de segunda classe e discriminados das mais variadas formas. O Paquistão, uma república islâmica, é um país onde é muito difícil para o crente em Jesus ter uma vida digna e tranquila.

Naquele país existe liberdade de crença, ou seja, as pessoas podem declarar crença em qualquer fé. Porém, a liberdade religiosa é limitada, o que significa que não se pode, por exemplo, expressar a fé publicamente, muito menos criticar o islã e seu profeta, o que configura blasfêmia, um crime que pode levar o acusado à pena capital.

Há, ainda, a questão da discriminação e perseguição comunitárias. Onde o islã é majoritário ou a religião oficial, cristãos são, geralmente, preteridos na procura de empregos, no cuidado social, na educação, distribuição de alimento e tem recusado a si, até mesmo, o acesso livre à água. Para o muçulmano, a água que foi tocada por um cristão estará contaminada. Logo, locais onde uma comunidade depende de um poço comum, por exemplo, o cristão terá dificuldade para tê-la livremente. Há casos de pessoas presas por anos pelo simples motivo de terem tocado o copo de água que era para consumo de muçulmanos.

Essa é exatamente a história da cristã paquistanesa Aasia Bibi, que se tornou um símbolo da opressão de comunidades muçulmanas contra cristãos. Aasia, uma mãe cristã de cinco filhos permaneceu no corredor da morte de novembro de 2010 a outubro de 2018. O caso teve início em 14 de junho de 2009, quando ela, uma simples trabalhadora rural cristã analfabeta, causou indignação entre colegas muçulmanas ao beber água de um copo compartilhado e foi também acusada de blasfêmia.

Aasia passou oito anos na prisão, sendo parte desse tempo em confinamento solitário por motivos de segurança. Sua filha, com 18 anos quando de sua soltura, afirmou: “tudo que minha mãe fez foi tomar um copo da água”. Para piorar sua situação, sua defesa era dificultada por ser cristã e por ser mulher, duas razões pelas quais sua palavra e seu depoimento valem menos diante da palavra ou acusações de homens muçulmanos naquele país.

Finalmente, em 31 de outubro de 2018, um painel de três juízes emitiu um veredicto absolvendo e ordenando sua libertação por falta de provas. A Ajuda Barnabas, organização dedicada a cuidar de cristãos perseguidos, apoiou a família de Aasia com alimentos e moradia durante toda essa batalha judicial. Leia aqui a reportagem completa (em inglês).[i]

Outra história longa e triste, com um desfecho neste ano, foi de Anwar Kenneth, um idoso cristão de 72 anos. Com doença mental, foi condenado por “blasfêmia” no Paquistão e  libertado após 23 anos no corredor da morte. Anwar, foi absolvido da acusação em 25 de junho, depois que os médicos confirmaram que ele estava mentalmente doente quando cometeu a suposta “blasfêmia”.[ii]

No Paquistão, ainda, há também grande dificuldade para cristãos conseguirem bons empregos. Por mais qualificados que sejam, os crentes em Jesus são preteridos das melhores oportunidades de trabalho. Muitos acabam trabalhando em esgotos, serviços de limpeza de rua, ou em olarias sob condições desumanas debaixo de um sol escaldante,  “working for peanuts” – como dizem os britânicos para se referir a quem ganha pouco pelo que faz.

Muitos desses trabalhadores são escravizados por dívidas que contraem junto a seus patrões, devendo trabalhar para estes até pagarem totalmente o valor emprestado.

Ocorre que o início desse pagamento se refere aos juros, e após anos de financiamento, com migalhas que ganham e uma porcentagem descontada de seu salário que nunca é suficiente para quitar a conta, muitos morrem e transmitem a dívida por herança aos filhos, que devem continuar servindo esses senhores donos das fábricas de tijolos. Veja aqui o documentário sobre Jeniffer, a filha de um trabalhador de olaria escravizado que conseguiu pagar sua dívida com ajuda de outros irmãos em Cristo. (Dica: no youtube, é possível configurar a legenda e tradução automática para português).[iii]

Existem hoje no Paquistão mais de 20.000 olarias, em que 90% dos trabalhadores são cristãos.

E isso ocorre justamente por ser o único tipo de emprego que essas pessoas conseguem, pelo simples fato de confessarem que Jesus é Deus. Não bastassem as condições desumanas de trabalho e os salários miseráveis, muitas vezes diminuídos por divídas adquiridas junto aos próprios patrões, há ainda abusos contra menores e mulheres que tornam a vida dessa famílias ainda mais dolorosa.[iv]

Histórias de assaltos sexuais e todo tipo de violência contra mulheres é comum e quase rotineiro. Infelizmente, por parte das vítimas e de suas famílias, há pouco que possam fazer para se defender.

O Islamismo, assim, é hoje fonte de perseguição comunitária e de grande supressão das liberdades de religião por parte de governos de diversos países. Semelhantes ao Paquistão, ou piores, são as condições em outras regiões do mundo. Podemos citar na Ásia, no Oriente Médio, ou no continente africano exemplos como:  Eritréia,  Argélia, Afeganistão, Bangladesh, Irã, Mauritânia, bem como tantas outras nações onde a sharia (lei civil e penal islâmcia) é instaurada oficialmente, ou em províncias específicas, como é o caso dos estados do norte da Nigéria.

No islã, aqueles que professam o nome de Cristo vivem como cidadãos de segunda classe. Há regiões em que são forçados a pagar o imposto jyzia (obrigatório apenas para cidadãos não-muçulmanos que não aceitam se converter ao islã).

Muitas vezes, a perseguição, a falta de liberdade religiosa e o desrespeito aos direitos humanos acabam por levar muitos cristãos a prisões injustas ou à morte, executados pelo Estado ou pela comunidade, como ocorre no Paquistão.

A dura realidade dessas pessoas e suas histórias, por mais tristes e pesadas que sejam, precisam ser conhecidas.  


[i]Leia na íntegra aqui: Pakistan’s Supreme Court overturns Aasia Bibi’s conviction | Barnabas Aid. Disponível em:  https://www.barnabasaid.org/pt/news/pakistan-s-supreme-court-overturns-aasia-bibi-s-conviction/. Acesso em 13 de outubro de 2025.

[ii]Leia a reportagem em: Cristão Paquistanês é libertado após 23 anos no corredor da morte por “blasfêmia” | Barnabas Aid. Disponível em: https://www.barnabasaid.org/br/news/cristao-paquistanes-libertado-apos-23-anos-no-corredor-da-morte-por-blas. Acesso em: 13/10/2025.

[iii]Link do documentário “Encontrando Esperança na Escravidão”: https://youtu.be/MeD7wh2MHAg?si=Wt6_SRGNktGirGwy .

[iv]Leia este relato do CEO Internacional do Ajuda Barnabas sobre a realidade dos trabalhadores cristãos em olarias no Paquistão: As implacáveis dificuldades das olarias do Paquistão | Barnabas Aid.
Disponível em: https://www.barnabasaid.org/br/long-reads/as-implacaveis-dificuldades-das-olarias-do-paquistao. Acesso em 13/10/2025.

Warton Hertz

Advogado, especialista em Direito Religioso e mestre em Teologia e Ética. É formado em Direito, Teologia e integra o Instituto Brasileiro e o Instituto Europeu de Direito e Religião.

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