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O Brasil acordado à bala

2 de novembro de 2025

O Brasil andava em letargia. Uma dormência moral e política. STF, Trump, Lula, Bolsonaro, anistia. A pauta era sempre o outro, o passado. Até que o Rio de Janeiro, sempre ele, resolveu acordar o país à bala.

Uma megaoperação contra o Comando Vermelho com mais de 130 mortos. Quatro eram policiais. Heróis que deram a vida pela ordem. O resto, segundo o governo, bandidos.

Foi uma ação digna de guerra: cerca de 2.500 agentes das forças de segurança do estado, helicópteros, drones, 32 blindados e 12 veículos de demolição. Tudo isso em dois complexos com 26 comunidades e 280 mil moradores, contra centenas de combatentes armados com fuzis AR-15 modificados, AK-47, pistolas, rádios comunicadores e drones adaptados para lançar granadas e bombas improvisadas. É guerra. E deve ser chamada assim.

Sim, houve moradores feridos – e qualquer excesso policial que venha à tona, precisa ser investigado -, mas todos receberam alta. Em uma operação desse tamanho, é quase um milagre. E sejamos francos: bala perdida é rotina em território dominado por facções. O que espanta, dessa vez, é a destreza da operação.

A esquerda, sem o refúgio de uma vítima civil, agarrou-se ao número. Contou corpos, mas não perguntou quem eram. A imprensa, sem saber o que fazer, inventou um termo novo: “ocorrências fatais”. Bonito e burocrático. Mas mortos quem? Traficantes armados, bandidos, terroristas… e poucos querem dizer isso em voz alta. Superado isso, declaremos o óbvio: o Estado venceu.

A operação foi exitosa. Mas o que ela acerta mesmo é no simbólico. De repente, o Brasil parece ter saído do transe. Viu o Leviatã se mover. E o fez pelas mãos de quem menos se esperava: Cláudio Castro, um governador de carisma zero e fala arrastada, que nunca brilhou em debate algum.

Subitamente, o homem apagado virou protagonista. Acusou o governo federal de negar ajuda e causou um mal-estar gigantesco para Lula, que respondeu dizendo que jamais fora consultado. Se é verdade ou não, não sei. Mas deu a entender que quem quer combater o crime está sozinho. E isso é péssimo para o petista.

Para piorar, Andrei Rodrigues, chefe da Polícia Federal, derrapou em entrevista e admitiu que houve, sim, contato entre o governo do Rio e a PF. Coube ao ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, aflito, afastar Andrei do microfone e tentar consertar a trapalhada. O estrago já estava feito.

No fim, Castro falou o que ninguém mais fala. E, sem discursos rebuscados, tocou no nervo da nação: a guerra que fingimos não existir. Essa operação pode ser o divisor de águas. Um ponto de inflexão. O instante em que a política larga o Instagram e volta à rua. Castro não fez vídeo com gancho e tela dividida. Fez o que todo governante deveria fazer: governou.

Há quem torça o nariz. Há quem chame de massacre. Mas só quem vive cercado pelo medo entende o que significa acordar sem tiro. Nayib Bukele, o presidente que transformou El Salvador de inferno em exemplo, resumiu em uma frase o que todo político deveria tatuar na alma: “Não há governo que não possa eliminar o crime. O Leviatã é sempre mais forte.”

Eis a chave. Falta ao Brasil o imaginário da vitória. Estamos tão acostumados à desordem que já não acreditamos na autoridade. As operações passam, as manchetes atualizam, e tudo volta ao mesmo. Mas o povo, exposto à possibilidade de ordem, muda. A esperança, ainda tímida, reacende.

Castro abriu um flanco. Um raro momento em que o debate público está vulnerável ao real. É hora dos governadores de direita fazerem o mesmo. Unirem-se num pacto contra o crime. Chamá-lo de terrorismo, como ele é. Dividir o peso político, partilhar o alvo da mídia e multiplicar o efeito.

O brasileiro precisa ver o Estado vencer. Repetidas vezes. Só assim o medo muda de lado, e fica do lado de lá, dos bandidos.

Talvez Cláudio Castro não seja um herói. Mas foi ele quem rompeu a letargia. E, num país adormecido, isso já é heroísmo suficiente.

henrique flores

Henrique Flores

Estrategista de comunicação política e especialista em marketing digital.

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